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O dia em que a terra parou, menos os que trabalham nela.


De uma hora para outra tudo mudou, as relações de trabalho, as relações de família e a forma de fazer negócios. O simples fato de abraçar alguém ou dar um aperto de mão tornou-se algo arriscado por culpa de um inimigo invisível, porém de alta periculosidade.

Alguns buscaram um culpado, outros se trancaram em casa, teve aqueles que se engajaram em espalhar o medo e o pânico, alguns aproveitaram para obter vantagens indevidas de algo que vai muito além da ética e da moral, e tiveram aqueles que acordaram cedo e foram pro campo fazer aquilo que fazem todos os dias: lavrar a terra e pastorear os rebanhos. Afinal esses receberam a missão divina de alimentar o mundo, e ainda não existe nada que os façam parar, afinal o Agro não para.

Tirando todo o caráter poético sobre essa questão, muito se engana quem pensa que a crise causada pelo COVID19 não irá afetar o Agro em virtude do fato das fazendas continuarem rodando.

Quando se fala em Agro, a maioria das pessoas enxergam somente da porteira para dentro. O Agronegócio é uma cadeia de suprimentos com diversos agentes (Revendas, Industria de Insumos, Bancos, Trades, Agroindústria, Setor de Transportes entre outros). Por hora a crise não afetou o produtor rural, todavia outros agentes do setor já sofreram o primeiro impacto causado pelas medidas de distanciamento social.

Dentre eles destaca-se o setor de máquinas agrícolas e insumos, que não puderam realizar as tradicionais feiras e exposições que ocorrem normalmente no primeiro semestre do ano. Além de lazer e cultura esses eventos geram um grande volume de negócios para o setor, que teve mais do que depressa se adaptar para eventos virtuais, esses que acabam por não mitigar os efeitos da crise, pois essas negociações ainda são de caráter “Frente a Frente”.

Outro setor que indiretamente sofreu grande impacto foi o de Hortifruti, em virtude da paralização das atividades de restaurantes e bares. Estima-se que cerca de 23% da produção do setor é destinada para esse mercado, que teve mais do que depressa se adaptar a essa nova realidade através do Delivery, embora tal medida não compensasse os prejuízos causados.

O setor sucroalcooleiro também sofreu grande impacto, e nesse caso costumo falar em impacto duplo pois além dos efeitos da crise política da OPEP que derrubou o preço do barril do petróleo, a diminuição da circulação de pessoas e mercadorias também contribuíram para a baixa nos preços dos combustíveis. Esse fator também derrubou o preço do Algodão, visto que as fibras sintéticas derivadas do petróleo também tiveram o valor reduzido.

Mas seguindo a lógica do ditado popular de que “Se a vida te der limões, faça uma limonada”, a crise trouxe alguns efeitos positivos para o agronegócio brasileiro. A desvalorização cambial foi uma delas. A alta do dólar favoreceu muito as exportações do setor assim como a crescente demanda de carne bovina oriunda dos novos contratos firmados com a China. Se comparamos o acumulado até maio de 2020, as exportações cresceram 4% em relação ao mesmo período do ano anterior. O produtor viu o preço da soja superar os R$ 100,00 por saca e a arroba do boi superar a casa dos R$ 200,00 em algumas regiões.

O que foi um sonho para uns, se tornou um pesadelo para outros. Produtores que tinham compromissos a pagar em Dólares e que não fizeram o “casamento cambial” nas suas operações, tiveram um aumento de mais de 30% nos custos dos compromissos firmados em moeda estrangeira, o que reforça cada vez a mais a necessidade da profissionalização da gestão das propriedades para se blindar dos riscos.

Outro legado positivo que essa crise irá deixar, é a percepção das pessoas, principalmente as do meio urbano, da importância do trabalho do homem do campo. Durante certo momento cogitou-se a falta de alimentos nos mercados e isso trouxe um choque de realidade para muitos. Durante anos vinculou-se a imagem do produtor rural à depredação da natureza e a exploração do trabalho de outros, felizmente isso está ficando para trás, e acredito que esta crise veio para acelerar esse processo.

De uma forma geral, acredito que ainda não sabemos estimar o tamanho dos efeitos dessa crise para a economia. Comparando com outros setores o agro até agora saiu praticamente ileso, porém devemos nos atentar para a crise econômica que está incubada nisso tudo, muitas empresas já fecharam e outras devem ter o mesmo destino nos próximos meses, o que levará ao aumento do desemprego. Diante desse cenário certamente o agro será afetado, pois se diminuir o poder de consumo da população certamente a procura por produtos cairá, e quem sofrerá o primeiro impacto será o setor da carne, cujo 77% do seu volume produzido é destinado para o mercado interno.

É certo de que o mundo jamais será o mesmo após essa crise, acredito que muitas mudanças deverão ficar na vida das pessoas dentre elas o maior cuidado com a higienização das mãos e dos ambientes, assim como o home-office que deverá ser o grande legado. As pessoas perceberam, de forma forçada, que é possível desenvolver um bom trabalho nesse ambiente, o que trás grandes economias de tempo e de recursos. Também acredito que o perfil de consumo será alterado, as pessoas passarão consumir mais produtos em casa do que na rua, o que deve trazer grandes transformações para o setor de entregas e de restaurantes e bares.

Estou certo de que quando tudo isso acabar, só existe uma maneira de lidar com os efeitos dessa crise: sacudir a poeira e seguir em frente, o povo brasileiro vai precisar fazer o que sempre fez, trabalhou arduamente para vencer os desafios que lhes são impostos, e essa crise é só mais uma pedra que existe no caminho e que será removida com trabalho e dedicação.


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